Você já ouviu falar ou sabe o que são canabinoides?
Bem, antes da explicação, aceita um pedaço de bolo servido pelo israelense Raphael Mechoulam? Opa, cuidado com qual pedaço você vai escolher!
Brincadeiras a parte, essa introdução nos traz a história de como, em 1963, Raphael Mechoulam conseguiu decifrar os diferentes componentes da cannabis. Na ocasião, o bioquímico conseguiu isolar dois dos componentes da planta, o THC e o CBD. Raphael reuniu alguns convidados e realizou, então, uma experiência consideravelmente curiosa: para uma parte do grupo, serviu um bolo comum, para a outra, uma receita que continha THC.
O resultado deu-se por alterações nos convidados que ingeriram o bolo com THC, como olhos avermelhados, fome, euforia, risos involuntários etc.
Para tirar a prova, no dia seguinte, ele repetiu o teste, utilizando CBD na receita, em substituição ao THC – nada aconteceu a seus convidados.
Foi por meio dessa história inusitada que os primeiros canabinoides e seus efeitos foram descobertos. Agora, vamos mais a fundo?
O que são canabinoides?
Façamos um exercício de imaginar a cannabis como uma casa que conta com diversos blocos em sua estrutura de construção, sendo cada um deles as diferentes substâncias da planta.
Alguns blocos são nominados terpenos, outros flavonoides. Nesse artigo, nosso foco será compreender mais a respeito dos canabinoides. São mais de 100, e são os verdadeiros responsáveis pelos efeitos terapêuticos da planta.
A concentração de canabinoides varia de acordo com cada tipo e cepa de cannabis – que entraremos no detalhe mais adiante. Em umas, é possível encontrar maior quantidade de THC, menos de CBD e o contrário também, e é esse tipo de variação que faz com que as plantas produzam efeitos diferentes e até mesmo opostos umas das outras.
Por conta da semelhança com substâncias que o organismo humano produz e por se ligarem aos mesmos receptores que elas, localizados no cérebro e no corpo de forma natural, os canabinoides possuem considerável eficácia médica, fazendo emergir uma nova perspectiva na medicina, por conta do sucesso no tratamento de condições como convulsões, câncer, sintomas de inflamação e dores crônicas.
Tipos de canabinoides
Existem diferentes tipos de canabinoides, que causam, consequentemente, diferentes efeitos, além de diferentes potenciais terapêuticos.
THC (Tetrahidrocanabinol)
Vamos começar pelo Tetrahidrocanabinol ou THC, o canabinoide mais popular da cannabis. Esse canabinoide se liga, principalmente, aos receptores encontrados no cérebro e reduz – ou até mesmo elimina – a dor, a náusea e o estresse, além de ajudar a estimular o apetite e combater a insônia.
CBD (Canabidiol)
Canabidiol ou CBD, é o canabinoide conhecido por reduzir crises de convulsão relacionadas à epilepsia e os espasmos da esclerose múltipla. Conforme vimos no estudo realizado por Raphael Mechoulam, esse canabinoide não possui efeitos psicoativos, sendo o principal recomendado aos pacientes, capaz de reduzir a inflamação e a dor, além de poder ter efeitos ansiolíticos, antipsicóticos e antidepressivos.
Além de produzir seus efeitos distintos, o CBD e o THC também se modulam. Por exemplo, o CBD diminui a ansiedade induzida pelo THC em alguns casos.
CBN (Canabinol)
Canabinol ou CBN é um componente psicoativo da cannabis. Pode ser um bom aliado no auxílio da melhora do sono, ou até mesmo funcionar como um sedativo. Além disso, o CBN ajuda a regular o sistema imunológico, reduzir a pressão intraocular provocada pelo glaucoma e a aliviar a dor e as inflamações causadas por várias condições, incluindo a artrite e a Doença de Crohn.
CBG (Canabigerol)
Canabigerol, ou CBG, é um canabinoide não psicoativo tipicamente abundante em plantas com baixo teor de THC.
Assim como o THC, o CBG reage com os receptores canabinoides do cérebro. No entanto, ele atua como um amortecedor para a psico-atividade do THC.
CBC (Canabichromene)
Canabichromene ou CBC, é um canabinoide poderoso e não psicoativo. Do mesmo modo que THC e o CBD, o CBC é capaz de incentivar a viabilidade do desenvolvimento de células cerebrais em um processo conhecido como neurogênese, desempenhando um papel significativo nas capacidades anticancerígenas e antitumorais da cannabis.
Esse tipo de canabinoide combate, também, a inflamação sem ativar, no entanto, nenhum dos receptores endocanabinoides do organismo. Por conta disso, os poderes de cura da CBC aumentam consideravelmente quando combinados com outros canabinoides, como THC ou CBD (que ativam os receptores endocanabinoides em todo o corpo).
THCA (ácido tetrahidrocanabinólico)
O ácido tetrahidrocanabinólico (THCA) é o canabinoide não-psicoativo mais abundante presente na cannabis. Os benefícios para a saúde fornecidos pelo THCA são melhor absorvidos pelo corpo por meio de um método de consumo bruto, como, por exemplo, o suco de cannabis. Esse tipo de canabinoide auxilia a estimular o apetite em pacientes que sofrem de caquexia e anorexia nervosa. Pesquisas demostraram, ainda, que o THCA também ajuda a diminuir a proliferação de células cancerígenas.
CBDV (Canabidivarina)
Canabidivarina ou CBDV é um canabinoide não psicoativo, encontrado em maior concentração em plantas indicas.
Tal qual o CBD, o CBDV reduz consideravelmente a frequência e gravidade das convulsões sendo, também, benéfico no tratamento de distúrbios da dor e do humor.
CBDA (ácido canabidiólico)
O Ácido Canabidiólico ou CBDA é um canabinoide não psicoativo que atua como um antiproliferativo, ou seja, que tem a capacidade de evitar a disseminação de células cancerígenas.
De modo mais exclusivo, o CBDA retarda o crescimento de bactérias, por isso é benéfico no tratamento de condições como HIV/AIDS e Doença de Crohn, condições em que o corpo está mais suscetível a infecções bacterianas.
THCV (Tetrahydrocannabivarin)
Tetrahydrocannabivarin ou THCV é um canabinoide psicoativo encontrado de forma mais frequente em estirpes sativas da planta cannabis.
É sabido que o canabinoide produz um sentimento de euforia mais motivado, alerta e energético. Por conta disso, costuma ser recomendado durante o dia ou, então, em qualquer momento em que a funcionalidade seja importante.
Plantas canabinoides
Existem três tipos/variações da Cannabis: Sativa, Indica e Ruderalis, que geram, portanto, diferentes efeitos e contam com distintas finalidades principalmente para uso medicinal.
Cannabis Sativa
Mais popular das variações, a Cannabis Sativa conta com maior concentração de THC em suas flores.
Esse tipo de planta canabinoide possui ampla fase vegetativa, o que faz com que possa atingir até 5 metros de altura e conta com folhas longas e finas. Por conta de seu potencial de crescimento, a floração dessa espécie é longa (10 a 12 semanas de floração).
Efeitos da Cannabis Sativa
Por conta da alta concentração de THC nessa espécie em comparação às demais, a Cannabis do tipo Sativa tem efeito estimulante, sendo recomendadas para o uso durante o dia e de forma terapêutica, auxiliando no combate de:
- Depressão
- Fadigas Musculares
- Indisposição
Cannabis Indica
Por ser mais robusta que a Sativa, a Cannabis Indica não consegue atingir grandes alturas, variando entre 1 a 2,5 metros. Suas folhagens são mais curtas, arredondadas e largas, e suas flores costumam crescer mais próximas umas das outras. São, também, mais resistentes ao toque do que a espécie Sativa.
Por possuir uma fase de floração menor em relação aos outros tipos, essa espécie é indicada para o cultivo “indoor” ou cultivo em estufas controladas e, sendo facilmente adaptada para cada ciclo.
Efeitos da Cannabis Indica
Apesar de contar com certa quantidade de THC, a Cannabis Indica tem uma característica particular de possuir considerável concentração de CBD, que possui grande poder relaxante, o que faz dela uma planta indicada para o uso noturno ou para um momento de descanso. É indicada para auxiliar no tratamento de condições como:
- Insônia
- Dores musculares em geral
- Espasmos musculares
- Ansiedade
- Dor de cabeça e alívio de enxaquecas
Cannabis Ruderalis
Não tão popularmente conhecida, a Cannabis Ruderalis é uma das variedades primárias da planta, e apresenta estatura baixa, que cresce entre 50-63 cm de altura.
Essa variação não é amplamente utilizada por não produzir tantos efeitos. A cannabis Ruderalis se adapta a ambientes extremos, como Europa Oriental, regiões do Himalaia na Índia, Sibéria e Rússia. Possui pouco THC e quantidades maiores de CBD, mas, no entanto, pode não ser suficiente para produzir efeito medicinal.
Sistema Endocanabinóide
Um dos sistemas fisiológicos mais significativos usados na melhoria da saúde humana é o sistema endocanabinoide. Endocanabinoides e receptores estão em várias partes do corpo: órgãos, células imunes, glândulas, tecidos conjuntivos e o cérebro têm endocanabinoides e receptores. O sistema endocanabinoide está focado na homeostase, isso significa que ele traz estabilidade ao ambiente interno, independentemente das flutuações do ambiente externo.
Os componentes essenciais do sistema endocanabinoide incluem enzimas metabólicas. Essas enzimas quebram os endocanabinoides depois de serem usadas. Endocanabinoides, por sua vez, são pequenos neurotransmissores retrógrados baseados em lipídicos, estimulando os receptores canabinoides, que estão localizados na superfície da célula.
O sistema endocanabinoide é responsável por regular a inflamação, agindo como um limitador dos sinais inflamatórios, e pelo disparo das células cerebrais, desempenhando um papel importante na regulação desse processo.
Canabinoides receptores
Receptores CB1 e CB2
Os receptores canabinoides estão em quase todas as partes do corpo, localizados especificamente nas membranas celulares, e são o sistema receptor mais comum. Os receptores canabinoides ativados causam diversos processos fisiológicos. Receptores CB1 estão em órgãos, glândulas, gônadas, tecidos conjuntivos e sistemas imunológicos. Por outro lado, receptores CB2 estão no sistema imunológico e nas estruturas relacionadas. Muitos tecidos possuem receptores CB1 e CB2, usados na execução de várias ações. No entanto, pode haver outro receptor de canabinoide que ainda não foi encontrado.
Os receptores metabólicos são utilizados na destruição dos endocanabinoides após a sua utilização. As duas principais enzimas são MAGL, utilizada na quebra de AG duplo, e FAAH utilizada na quebra de anandamida. Elas garantem que os endocanabinoides sejam usados sempre que necessário, não excedendo, porém, a duração esperada. Por esse motivo, os endocanabinoides são diferentes de outros sinais moleculares, como neurotransmissores clássicos e hormônios. Esses outros sinais moleculares persistem por maior tempo.
Como Funcionam os Receptores Endocanabinoides?
Os Receptores Canabinoides contêm auxiliares enzimáticos. Enzimas são vitais em muitos processos do corpo humano. Um processo no qual as enzimas participam ativamente é o sistema endocanabinoide, mornitoranto os endocanabinoides encontrados no corpo humano. Geralmente, elas regulam endocanabinoides em operação em um determinado momento, ajudando, também, a reduzir o risco de excesso de endocanabinoides, que podem gerar consequências terríveis nos processos corporais.
Os receptores canabinoides possuem uma enzima não psicoativa. É um tipo de composto químico encontrado na planta de cannabis. Essa enzima garante que os endocanabinoides do seu corpo sejam bem utilizados e os receptores canabinoides dependem, por sua vez, de endocanabinoides abundantes e saudáveis
Os receptores canabinoides dependem, também, de endocanabinoides ativos e saudáveis. Em troca, eles podem receber e transportar mensagens que controlam a memória, humor e outros processos biológicos importantes. Por outro lado, os endocanabinoides funcionam melhor quando combinados com canabinoides não psicoativos
Quais Problemas Ocorreram Devido à Deficiência de Receptores?
A deficiência de receptores pode resultar em várias condições médicas, como:
- Enxaqueca
- Mal de Parkinson
- Doença de Alzheimer
- Esclerose múltipla
- Lentidão em movimentos
- Depressão
- Serotonina
- Baixos Níveis de Dopamina
Em caso de deficiência de receptores, é aconselhável que você consulte um médico especialista, que realizará a avaliação necessária antes de conceder o tratamento adequado. As condições médicas acima são um sinal de que você pode apresentar uma deficiência nos receptores.
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